AS LÍNGUAS ESTRANHAS SÃO VERDADEIRAS?

Ficou muito famoso em território brasileiro e em todo o mundo o chamado línguas estranhas, um evento que acontece principalmente em igrejas pentecostais e carismáticas com a promessas de línguas que não são traduzíveis aos homens, mas um falar unicamente a Deus. A grande questão é saber se a Bíblia apresenta o dom de línguas como uma língua intraduzível e em segredos a Deus. Hoje nós vamos nos debruçar nas Escrituras e ver se as línguas estranhas são ou não verdadeiras.

Antes de começarmos é importante ressaltar que nosso objetivo não é atacar ninguém, ou muito menos ridicularizar uma suposta igreja, mas vamos analisar o que a Bíblia fala sobre as línguas estranhas, línguas que são apresentada por grupos pentecostais e carismáticos.

O movimento pentecostal é um movimento protestante cristão que enfatiza uma experiência direta com Deus através do batismo com Espírito Santo [1] O termo pentecostal é derivado do evento ocorrido no livro de Atos dos Apóstolos, o evento do pentecostes, onde é relatado que os apóstolos e alguns discípulos receberam a habilidade de falar em novas línguas. (Atos 2.4)

Assim como todos os outros movimentos protestantes, o pentecostalismo adere aos mesmos princípios da reforma protestante, como: inerência da Bíblia, o novo nascimento e a fé no Senhor Jesus. [2]  

O movimento pentecostal é distinto das outras vertentes, por justamente acreditar no batismo no Espírito Santo como uma segunda bênção, e uma vida de poder no Espírito. Esse poder inclui o uso dos dons espirituais, tais como falar em novas línguas (Segredos, humanas e angélicas) e o uso de curas divinas. [3] 

Eles acreditam nisso por dizerem que não só foi ensinado pelos apóstolos como também pela igreja primitiva. Por esse motivo alguns movimentos pentecostais podem receber o nome de – movimento apostólico ou o famoso “full gospelQuer dizer evangelho completo.

Há muitas versões de como começou o movimento pentecostal, alguns dizem que foi ainda no movimento Wesleyano, onde os mesmos estavam procurando um reavivamento e uma eminente volta de Cristo ainda naquele século [4], enquanto outros (que particularmente acho o mais certo) dizem que começou no Séc. XX. 

Em 1900, Charles Parham começou a pregar sobre um novo batismo e um “novo dom” o falar em línguas estranhas. William J. Seymour um pregador wesleyano aderiu o então chamado batismo com Espírito Santo, como uma segunda bênção, e a sua evidência o falar em línguas. 

William J. Seymour, ensinava que o segundo batismo (batismo com Espírito) seria uma terceira obra da graça [5] evidenciando assim, uma bênção completa aos crentes.

Provavelmente você já ouviu falar da Rua Azusa, ne? Essa rua foi fundada e liderada por Seymour em Los Angeles, Califórnia, resultou no crescimento do pentecostalismo nos Estados Unidos e no resto do mundo. 

Os visitantes levaram a experiência pentecostal de volta às suas igrejas domésticas ou sentiram-se chamados para o campo missionário. Fazendo com que as igrejas pentecostais se instalassem ao redor do mundo.

Embora praticamente todas as denominações pentecostais tenham suas origens na Rua Azusa, o movimento teve várias divisões e controvérsias. As primeiras disputas centraram-se nos desafios à doutrina da inteira santificação, bem como à da Trindade. Como resultado, o movimento pentecostal é dividido entre os Pentecostais da Santidade que afirmam a segunda obra da graça, e os Pentecostais da Obra Concluída que são divididos em ramos trinitários e não trinitários, o último dando origem ao Pentecostalismo Unitário. [6] [7]

Não existe nenhuma autoridade central, mas muitas denominações são afiliadas à Pentecostal World Fellowship.

Mas nós não viemos aqui para falar de origens, e sim sobre o falar em línguas estranhas, algo que é muito comum em meios pentecostais, e os mesmos afirmam isso, e incentivam as pessoas a buscarem. [8]

A primeira coisa que temos que entender é que, no Novo Testamento, línguas é entendida como idiomas (Atos 2.4)

Até porque a palavra em grego:

γλῶσσα (Glossa)

Dar entender de uma língua que é adquirida de maneira sobrenatural, sem nenhum tipo de estudo, seja formal ou informal.

Logo o dom de línguas no Novo Testamento era falar um idioma que você não sabe de maneira sobrenatural.

A palavra γλῶσσα (Glossa), que acabamos de ver, ela aparece 50 vezes em todo o Novo Testamento, e na maioria das vezes é usado para falar na língua literal, ou seja, um idioma conhecido. (Marcos 7.33; Atos 2.32; 1 Pedro 3.10)

Pode surgir uma dúvida – mas Marcos 16.17 fala que os discípulos iriam falar novas línguas, porém;

Em Marcos 16.17 que aparece ἤρξαντο λαλεῖν (Kainos Glossa), ou seja, - falarão novas línguas – não implica o fato de línguas espirituais, mas aprender a um idioma o qual os discípulos nunca tiveram contato.

E Marcos não está interessado em explicar qual língua é essa que o Senhor fala, dando a entender que o dom de línguas é idiomático em uma língua “aleatória”.

Essa é o primeiro texto que muitas pessoas usam para dizer sobre os dons de línguas, mas existem outros;

Como é o caso de Atos 2, na emblemática decida do Espírito Santo sobre os apóstolos e discípulos.

Muitos a interpretam como um fenômeno idiomático, mas outros como um dom de falar em línguas angelicais e de forma sobrenatural ser entendido por outras pessoas. [9]

Mas Atos 2 não apresenta um vestígio de línguas estranhas, mas línguas normais. Até porque havia pessoas de todas as partes naquele local, seria impossível que naquele local eles estivessem falando línguas estranhas ou angelicais. Até porque temos o relato de que os homens estavam ouvindo em sua própria língua. (Atos 2.6)

Outro texto bastante usado para comprovar o dom de línguas é 1 coríntios 12 e 14 onde Paulo vai falar sobre os dons espirituais e consequentemente fala sobre o dom de línguas, lá aparece o seguinte:

A outros, variedades de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas.

ἄλλῳ ἐνεργήματα δυνάμεων , ἄλλῳ προφητεία , 1 ἄλλῳ διακρίσεις πνευμάτων , ἑτστῳ γένη γλωσσῶν · λλῳ διακρίσεις πνευμάτων , ἑτίῳ γένη γλωσσῶν · ἄνευμάτων , ἑτήῳ γένη γλωσσῶν · νελεσαι

1 coríntios 12.10

 E também:

Pois quem fala em uma língua não fala aos homens, mas a Deus. De fato, ninguém o entende; em espírito fala mistérios.

γὰρ λαλῶν γλώσσῃ οὐκ ἀνθρώποις λαλεῖ ἀλλὰ θεῷ , οὐδεὶς γὰρ ἀκούει , πνεύματι δὲ λαλεῖ μυστήρα ·

1 coríntios 14.2 

Na primeira passagem nós temos duas expressões muito importantes - variedades de línguas e interpretação de línguas

Essas duas partes são muito usadas para defender a fala de outras línguas, mas a expressão seguinte dar a entender outra coisa;

Quanto a palavra – intepretação de línguas (διακρίσεις)A palavra em grego dar a entender uma tradução.

Uma tradução feita de uma língua, assim como acontece em nossos dias, por exemplo, suponha que em uma determinada igreja há duas pessoas – Tiago e João – Eles são os únicos em toda a igreja que sabem falar inglês, e em uma hora inesperada aparece um pregador americano dando uma noticia de extrema importância para os irmãos, como os outros irmãos vão entender se eles não falam inglês? Você deve ter dito, simples, João ou Tiago irão traduzir tudo o que esse irmão vier falar, e assim toda igreja será edificada. Pois bem, da mesma maneira é isso que o texto de 1 coríntios se refere;

E como nós podemos traduzir uma língua que não é dado a conhecer aos homens, e o apóstolo deixa expressa que os irmãos só falem se houver interpretes/tradutores lá? (1 coríntios 14.27)

O segundo texto então é – 1 coríntios 14.2, e lá aparecem duas expressões muito importantes também:

Pois quem fala em uma língua (λαλῶν γλώσσῃ) E em espírito fala mistérios (πνεύματι δὲ λαλεῖ μυστήρα)

Muitos usam essa passagem para evidenciar que as línguas estranhas são reais, quando no texto aparecem – fala mistérios – muitos ali usam para falar que é impossível essa língua ser codificada pelos homens, será?

Como nós vimos anteriormente às línguas seriam usadas principalmente como um sinal dos dons dados do Espírito Santo, e que, em principal, as línguas só eram para serem usadas se houvessem tradutores por perto que pudessem então traduzir e edificar a igreja, pois o que fala em língua edifica a si mesmo; mas não no sentido de falar algo a par das línguas humanas, mas em falar outra língua à pessoas que não conhecem.

Imagine só, na igreja de Corinto, os irmãos falavam grego, se em algum momento do culto algum irmão começasse a falar em línguas, por exemplo, o latim, ninguém ali entenderia, e logo apenas o irmão que estava falando em línguas edificaria a si mesmo, enquanto os outros irmãos não. Ele estaria falando um segredo a Deus (μυστήρα) e edificando apenas a si mesmo, mas não ao próximo, e como nós falamos em nosso vídeo – o que é teologiatudo que nós fazemos em nossas vidas tem um único intuito, glorificar a Deus e edificar a Igreja. (1 coríntios 10.31) 

Ainda há outro texto que pode ser usado como um sinal de línguas estranhas, Romanos 8.26; onde diz: 

pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis.

Romanos 8 não fala de línguas estranhas, mas uma série de gemidos que também é apresentado no mesmo capítulo (Romanos 8.19) esse gemido apresentado é um gemido de dor, junto com a nossa dor.

Agora vamos ver as perspectivas pentecostais sobre o dom de línguas;

 Perspectivas pentecostais

1.Normalmente os pentecostais usam a passagem que se encontra em 1 coríntios para falar sobre as línguas, que é; 

Eu quero que todos vocês falem em línguas;

Porém ali não mostra que todos irão falar em línguas, ou que o dom é para todos, até porque a palavra em grego – θελω (thelo) que significa um desejo, não é apresentado como algo real, mas um simples desejo; por exemplo, Paulo fala que ainda que ele fale as línguas dos homens e dos anjos, e tenha todo o conhecimento do mundo se ele não tivesse amor ele nada seria; porém, isso é algo impossível! Não é concebível ao homem falar todos os 6.912 idiomas, ou muito menos saber de tudo na terra, ou seja, é algo figurativo, e nessa passagem segue-se o mesmo principio.

2.     2.As línguas como uma forma de orar melhor

Outra coisa que também não faz tanto sentido assim, as línguas eram usadas principalmente no contexto missionário, como é o caso de Filipe, que é mandado para um lugar distante que não fala hebraico, mas a bíblia relata que muitas pessoas se converteram, como pode isso? O dom de línguas idiomáticos (Atos 8.4)

3.    3.Arrepios como sinal do Espírito Santo

Eu realmente não sei como responder a essa! Primeiro porque a Bíblia não fala nada sobre os arrepios, seja na hora do culto ou não, e o que conseguimos ver em uma perspectiva histórica é que sentir arrepios na hora de algo envolvendo alguma divindade vem do paganismo, e não do cristianismo [10]

Finalizamos assim que, o dom de línguas é idiomático; é o dom de falar em um idioma sem conhecimento prévio do mesmo.

Lembrando que nosso intuito não é atacar ou humilhar os irmãos que acreditam nas “línguas estranhas”, mas apenas mostrar outra perspectiva pouco mostrada nas igrejas do Brasil.


Fontes usadas 

[1] An history about pentecostalism - Artigo

[2] Declarações de Fé das Assembleias de Deus no Brasil - Documento

[3] Declarações de Fé das Assembleias de Deus no Brasil Cap.I Parag. 12

[4] Wesleyan theology - Artigo 

[5] An history about pentecostalism - Artigo

[6] e [7] Grupo de pentecostais que negam a trindade e são unitários na teologia.

[8] Declarações de Fé das Assembleias de Deus no Brasil Cap.I Parag. 12 

[9] Muitos pentecostais acreditam tanto na glossolalia e xenolalia

[10] The history about paganism Bcc - Artigo 


Felipe Castro é apresentador oficial do canal - Assuntos Teológicos - e todos os outros meios de comunicação da marca. Desde 2020 vem produzindo conteúdos teológicos na internet com o intuito de glorificar a Deus e edificar a igreja. Também trabalha como editor chefe e escritor na - Editora Casa Cristã - onde produzem conteúdo teológicos, livros, sermões e palestras sobre teologia.